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domingo, 6 de março de 2011

QUAIS SÃO AS MARCAS DA SUA MISSÃO? WILLIAM CAREY, O HOMEM QUE MARCOU SUA GERAÇÃO! por Marielle Batista Ribeiro


QUAIS SÃO AS MARCAS DA SUA MISSÃO? WILLIAM CAREY, O HOMEM QUE MARCOU SUA GERAÇÃO!

A separação entre teologia e missões tem causado graves problemas à Igreja de Cristo no mundo. Até algum tempo atrás, missões era o resultado inevitável de uma teologia baseada na Palavra de Deus. Vemos isto na vida e obra do grande missionário batista William Carey, que viveu no século passado.  Mas infelizmente a separação entre teologia e missões tem penetrado nas igrejas e organizações missionárias no período moderno, e tem produzido efeitos perniciosos até o dia de hoje.
A afirmação de Michael Green de que "quase todo teólogo não gosta de evangelização e quase todo evangelista não gosta de teologia," é mais verdadeira, infelizmente, do que desejaríamos. Toda reflexão teológica deveria desembocar em subsídios para o esforço expansionista da Igreja de Cristo. Esses esforços, por sua vez, nada mais podem ser do que teologia em ação. Na verdade, quando a nossa prática missionária não é fertilizada e controlada por uma reflexão teológica correta, ela acaba se tornando em ativismo, desempenho estilizado ou simplesmente uma aplicação frenética de métodos.
Filho primogênito de Edmund Carey (m. 1816) e Elizabeth Wells (m. 1787), William Carey nasceu em uma humilde cabana em 17 de agosto de 1761, na pequena vila de Paulerspury, em Northamptonshire, na Inglaterra. Em toda a sua vida, sempre lutou com dificuldades de todo gênero, porém jamais se deixando vencer por elas. Seus companheiros diziam dele: "O que Carey começa, sempre termina". Quando ainda menino, Carey subiu numa árvore para observar um ninho de pássaros. Escorregou e caiu. Com algumas contusões e arranhões, voltou para casa; sua mãe tratou de aplicar-lhe os curativos e colocou-o na cama. Entretanto, sua mãe logo notou a ausência do menino e, quando viu, lá vinha ele chegando com o ninho de pássaros na mão. O menino Carey tinha Cristóvão Colombo (1451-1506) como seu herói favorito, a ponto de receber o apelido de "Colombo". Amava a natureza, colecionava e estudava pássaros, insetos e plantas que encontrava nos campos. Acima de tudo, porém, amava os livros, especialmente os que falavam de viagens e aventuras. Em Piddington, aos quatorze anos, William aprendeu o ofício de sapateiro.
Apesar de nascer em um lar anglicano, sua primeira identificação com a fé genuína foi através de seu companheiro de trabalho, John Warr, filho de um desertor da Igreja Estatal. Em 1779, aos 18 anos, quando ainda estava identificado com a igreja oficial da Inglaterra, experimentou o novo nascimento, passando a freqüentar uma pequena igreja batista. Logo começou a se preparar para pregar. Acumulou muitos conhecimentos, tornando-se poliglota; dominou o latim, grego, hebraico, italiano, francês e holandês, além de diversas ciências. A fim de estudar hebraico caminhava catorze quilômetros para se encontrar com o professor. Assim, aos poucos, entendeu que o mundo era bem maior do que as Ilhas Britânicas e sentiu, como todo o crente verdadeiro deve sentir, a perdição de uma humanidade sem um Salvador.
Em Junho de 1781, casou-se com a jovem Dorothy Placket, da qual teve cinco filhos. No ano de 1775, foi atingido pelo avivamento trazido pelas mensagens de John Wesley e George Whitefield. Apesar de ter sido batizado quando criança, William Carey sentiu a necessidade de confessar sua fé publicamente. Sendo assim, foi batizado nas águas no dia 5 de Outubro de 1783, pelo pastor John Ryland. Na sua pequena oficina pendurou um mapa mundial feito pelas suas próprias mãos. Neste mapa, ele incluíra todas as informações disponíveis: população, flora, fauna, características dos indígenas, etc. Enquanto trabalhava, olhava para ele, orava, sonhava e agia! Foi assim que sentiu mais e mais a chamada de Deus em sua vida. A denominação que Carey pertencia achava-se em grande decadência espiritual. Quando quis introduzir o assunto de missões numa sessão de ministros, foi repreendido pelo veneravél presidente John Ryland, que lhe disse: "Jovem assente-se. Quando Deus resolver converter os pagãos, fa-lo-á sem a sua e a minha ajuda." Mas Carey continuou a sua propaganda pró-missões estrangeiras, e tomando Isaías 54.2 como texto, pregava sobre o tema: "Esperai grandes coisas de Deus; praticai proezas para Deus."
Em 1787, William Carey foi consagrado e começou a pregar sobre a necessidade missionária no mundo, e não só na Inglaterra. Como os membros de sua congregação eram pobres, provendo-lhe o módico ordenado de 15 libras anuais, Carey teve por necessidade continuar trabalhando para ganhar o seu sustento. Costumava dizer: "Meu negócio é estender o Reino de Cristo. Fabrico e remendo sapatos unicamente para ajudar a cobrir minhas despesas". O Sr. Robert Hall (1728-1791), pastor em Arnesby, Leicestershire, foi um dos mentores de Carey no ministério
O resultado foi que um grupo de doze pastores batistas, reunidos na casa de Sra. Beeby Wallis, formaram a Baptist Missionary Society (Sociedade Missionária Batista), no dia 2 de outubro de 1792. Originalmente, o nome da organização era Particular Baptist Society for the Propagation of the Gospel Amongst the Heathen (Sociedade Batista Particular para a Propagação do Evangelho entre os Pagãos). Carey se ofereceu para ser o primeiro missionário. Através do testemunho do Dr. John Thomas (1757-1800), um missionário e médico que trabalhou por vários anos em Bengali, na Índia, William Carey recebeu confirmação de sua chamada no dia 10 de janeiro de 1793. Andrew Fuller (1754-1815), pastor batista em Kettering, tornou-se o principal teólogo do movimento missionário, aliando a profunda teologia da escola calvinista de Jonathan Edwards (1703-1758) com um fervoroso zelo missionário e uma ação pastoral prática e piedosa. Homens como os pastores batistas Samuel Pearce (1766-1799) e John Sutcliff (1752-1814), e John Newton (1725-1807), o conhecido clérigo anglicano e escritor de hinos, foram grandes encorajadores da obra missionária que ele se propôs a realizar.  
Apesar de Carey ter certeza de sua chamada, sua esposa recusou-se a deixar a Inglaterra. Isto muito doeu em seu coração. Foi decidido, no entanto, que seu filho mais velho, Felix, o acompanharia à India. Além deste fator, outro problema que parecia insolúvel era a proibição de qualquer missionário na Índia. Sob tais circunstâncias era inútil pedir licença para entrar, mas mesmo assim, conseguiram embarcar sem o documento no dia 4 de abril de 1793. Ao esperar na Ilha de Wight por outro navio que os levaria à Índia, o comandante recusou levá-los sem a permissão necessária. Com lágrimas nos olhos e o coração apertado, William Carey viu o navio partir e ele ficar. Sua jornada missionária para Índia parecia terminar ali. Porém, Deus, que tem todas as coisas sob controle, tinha outro propósito.
Ao regressar à Londres, a Sociedade Missionária conseguiu reunir recursos e comprar as passagens em um navio dinamarquês. Uma vez mais, Carey rogou à sua esposa que o acompanhasse. Ela ainda persistia na recusa, e ao despedir-se pela segunda vez disse: “Se eu possuísse o mundo inteiro, daria alegremente tudo pelo privilégio de levar-te e os nossos filhos comigo; mas o sentido do meu dever sobrepuja todas as outras considerações. Não posso voltar atrás sem incorrer em culpa para minha alma." Ao se preparar para partir, um dos amigos que iria viajar com Carey, Dr. Thomas, voltou e conversou com Dorothy, esposa de William Carey, e, como que por um milagre, ela decidiu acompanhá-lo. Foi uma imensa alegria para ele, quando viu sua esposa e filhos com as malas prontas a lhe acompanhar! Agora ele compreendia a razão de não haver viajado no primeiro navio. O comandante do navio comoveu-se a ponto de permitir que a família viajasse sem pagar as passagens. Finalmente, no dia 13 de junho de 1793, a bordo do navio Kron Princesa Maria, William Carey, com trinta e três anos, deixou a Inglaterra e nunca mais voltou, partindo para a Índia com sua família, onde, em condições dificílimas e de oposição, trabalhou durante quarenta e um anos. Durante sua viagem, aprendeu suficiente o Bengali, e ao desembarcar, já comunicava com o povo.
Alguns biógrafos dizem que William Carey "não foi dotado de inteligência superior e nem de qualquer dom que deslumbrasse os homens". Entretanto, todos identificam "seu caráter perseverante, com espírito indômito e inconquistável, que completava tudo quanto iniciava". O fato, porém, é que apesar de não haver recebido educação formal em sua mocidade, Carey chegou a ser um dos homens mais eruditos do mundo, no que diz respeito à lingua sânscrito e a outros idiomas orientais. Distinguiu-se notavelmente no campo da lingüística, e suas gramáticas e dicionários são usados ainda hoje.
Decorridos sete anos, o primeiro convertido foi batizado, Krishna Pal (m. 1822), um carpinteiro. Outros missionários se juntaram a Carey. Em 1799, William Ward (1769-1823) e Joshua Marshman (1768-1837) vieram somar esforços. Juntos eles fundaram 26 igrejas, 126 escolas com 10.000 alunos, traduziram as Escrituras em 44 línguas, produziram gramáticas e dicionários, organizaram a primeira missão médica na Índia, seminários, escola para meninas, e o jornal na língua Bengali. Além disso, William Carey foi responsável pela erradicação do costume "suttee", o qual queimava a viúva juntamente com o corpo do defunto numa fogueira. Foi também responsável pela cessação do sacrifício de crianças, que eram atiradas às águas do rio Ganges. Entre os efeitos de seu trabalho estão vários experimentos agrícolas; a fundação da Sociedade de Agricultura e Horticultura na Índia em 1820; a primeira imprensa, fábrica de papel e motor à vapor na Índia; e a tradução da Bíblia em Sânscrito, Bengali, Marati, Telegu e nos idiomas dos Sikhs.
Estudantes dos departamentos de Letras, Literatura e Educação o reconhecem como o 1º tradutor dos grandes clássicos religiosos da literatura indiana, como o Ramayana e o tratado filosófico Samkhya na língua inglesa. Willian Carey traduziu e publicou a Bíblia em 40 línguas diferentes! Ele fundou a 1ª Faculdade Asiática em Serampore, perto de Calcutá; foi professor de Bengali, Sânscrito e Marathi no Fort William College em Calcutá e escreveu o 1º dicionário de sânscrito para estudiosos. Além disso, ele começou dezenas de escolas para crianças de todas as castas. Por mais de 3 mil anos a cultura religiosa proibiu a maioria dos indianos do acesso ao conhecimento, estratégia das altas castas para controlar as castas inferiores. Carey demonstrou tremendo poder espiritual contra os sacerdotes e religiosos. Carey escreveu baladas do evangelho em Bengali para atrair aos cultos hindus que amavam a música e transformou o Bengali – considerada apta somente para mulheres e demônios – na língua mais importante da Índia. Seu objetivo sempre foi criar uma literatura vernácula, nacional.
 Estudantes de história o têm como pai da renascença indiana nos séculos XIX e XX. O ápice intelectual, artístico, arquitetônico e literário da Índia hindu do século XI cessou e declinou com o monismo de Adi Shankaracharya. Todo o racionalismo, modernismo, temas científicos e tudo o mais que enriquece a cultura tornou-se suspeito dentro da cultura. Asceticismo, misticismo, ocultismo, superstição, idolatria, feitiçaria formaram a estrutura e visão de mundo da cultura indiana. Isso tudo em meio à exploração estrangeira e controle Europeu. Carey viu a Índia como um país amado por Deus, onde a verdade deveria reinar. O movimento de Carey culminou no surgimento do nacionalismo indiano e subseqüente movimento pela independência.
 Estudantes de economia o apontam como o precursor da idéia da poupança, um homem que lutou contra a avareza, a cultura de propinas e a usura da época. Juros entre 36-72 % tornam investimentos, indústria, comércio impossíveis, dizia ele! Ele pregou ética na economia e buscou incrementar as relações econômicas entre a Índia e Inglaterra numa época de xenofobia;
 Estudantes de engenharia o tratam como um industrial, que trouxe a máquina a vapor para a Índia, animou os ferreiros a fazerem cópias de suas máquinas; o 1º a utilizar papel indiano para publicação;
 Estudantes de ecologia garantem que Carey foi o 1º a escrever artigos sobre a floresta indiana quase 50 anos antes do governo começar suas tentativas de conservação ambiental em Malabar. Ele defendeu o cultivo da madeira dando conselhos práticos em como plantar árvores com propósitos ambientais, agricultura e comerciais. Deus nos fez responsáveis por toda a terra!
 Estudantes de agronomia o tratam como o fundador da sociedade Agricultura e Horticultura em 1820, 30 anos antes da Sociedade Real de Agricultura ser estabelecida na Inglaterra. Carey fez sistemáticas pesquisas da agricultura e intensas campanhas pela reforma agrária. Tudo isso, por estar horrorizado pelo fato de 3/5 deste bonito país se tornara uma grande selva não cultivada e cheia de feras e serpentes; ele publicou os primeiros livros sobre ciência e história natural na Índia, trouxe o sistema de jardinagem Linnaen e inspirou o nome dum dos três eucaliptos da Índia: Careya Herbacea. Ele freqüentemente palestrou sobre ciência e mostrou como insetos não seriam almas aprisionadas, mas criaturas valiosas de atenção;
 Estudantes de medicina lembram que Carey realizou a 1ª campanha por um tratamento digno aos leprosos. Naquela época eles eram queimados ou enterrados vivos pela crença que um corpo, com um fim violento, transmigraria para uma existência saudável. “Jesus tocou os leprosos”, dizia Carey
 Estudantes de comunicação e marketing o honram como pai da tecnologia da impressão. Ele trouxe a imprensa e publicação e ensinou a utilizá-la além de estabelecer o 1º Jornal em língua oriental, Friend of India, uma força que impulsionou o movimento de reforma social na 1ª metade do XIX.
 Estudantes de sociologia e dos direitos da mulher lembram que ele fez pesquisas sociológicas e publicou artigos para levantar protestos em Bengali e Inglaterra. Ele foi o 1º a levantar-se contra os assassinos cruéis e opressores da mulher indiana. Os homens destruíam as mulheres através da poligamia, genocídio infantil, casamento infantil, queima de viúvas (sati), eutanásia e analfabetismo feminino. Todos esses sancionados pelo hinduísmo e outras religiões. Ele persistiu 25 anos contra o sati até que o edito de 1829 baniu essa prática, alem de abrir escolas para moças e arranjar maridos para viúvas convertidas;
 Estudantes de filosofia asseveram que William Carey reviveu a antiga idéia de que ética e moralidade estão inseparavelmente ligados à religião, enquanto muitos na época separavam a espiritualidade de moralidade. Ele reafirmou que os seres humanos são pecadores e precisam de perdão. Esse ensino revolucionou a espiritualidade indiana que enfatizava meramente a experiência mística individualista;
 Estudantes de astronomia sabem que Carey introduziu o estudo da astronomia na Índia. Ele não acreditava que os astros eram deuses que governavam a vida das pessoas. Profundamente preocupado com os desdobramentos culturais da astrologia: fanatismo, superstição, ele lembrou que homens foram criados para governar a natureza e não vice-versa. Sabia que o sol, lua e planetas são criados para manifestar a glória de Deus e ajudam a dividir as estações, anos e meses e definir direções (norte, sul, leste, oeste). A astronomia liberta enquanto a astrologia aprisiona!
Estudantes de biblioteconomia o aceitam como o pioneiro no empréstimo de bibliotecas para a Ásia. Enquanto os navios britânicos importavam armas e soldados, Carey trouxe livros educativos e sementes nestes mesmos navios. “Livros libertam”, dizia Carey!
Carey morreu aos setenta e três anos, na manhã de 9 de junho de 1834, respeitado por todo o mundo, e considerado por muitos como "o pai de um grande movimento missionário". Seu corpo foi sepultado no "campo missionário". Ao chegar à Índia, os ingleses negaram-lhe permissão para desembarcar. William Wilberforce (1759-1833), o denodado líder do Parlamento (que se empenhou pelo fim do tráfico negreiro), defendeu o direito de Carey e outros missionários de levarem adiante a pregação do Evangelho na índia. Ao morrer Carey, porém, o governo britânico mandou içar as bandeiras a meia haste em honra de um herói que fizera mais para a Índia do que todos os generais britânicos.
Carey acreditava que os missionários devem estudar o pano de fundo e a maneira de pensar dos povos não-cristãos aos quais servem, treinando um ministério indígena o mais prontamente possível. Assim, quando Carey faleceu, os próprios crentes indianos puderam dar continuação à obra, pois havia uma liderança formada. Esse famoso missionário inglês, pastor batista e pai das missões modernas, foi mais do que simplesmente um típico missionário transcultural. Na verdade, ele foi um modelo de líder cristão preocupado com a transformação das culturas, castas e cosmovisões da Índia.
Como você pode perceber, William Carey desejava que o Evangelho de Cristo influenciasse todas as áreas do conhecimento e penetrasse todas as esferas sociais. Ele possuía uma profunda convicção de que o Reino de Deus deve impactar e transformar os valores, as ciências, as idéias, as atitudes e a mentalidade do povo.
Como cristãos, não podemos apenas “salvar almas”, abençoar pessoas espiritualmente (se bem que espiritualmente não signifique “fora do corpo”, alma etérea, mas sim uma ação do Espírito de Deus sobre a vida). Parece que esta ainda é a tendência vigente em muitas igrejas e projetos cristãos: fiquemos com nossas igrejas ambientadas, cultos modernizados e programas contemporâneos! E o mundo lá fora? Que se lixe, que vá para ao inferno!?! Bem, nunca foi essa escatologia escapista ou teologia fatalista que marcaram a visão de William Carey e de muitos outros santos e sábios missionários, encorajados pelo evangelho integral do Senhor Jesus Cristo, bem como do seu irmão Tiago e do apóstolo Paulo de Tarso.
“Esperem grandes coisas de Deus, empreendam grandes coisas para Deus". 

Referência Bibliográfica.

 http://www.cicero.com.br/evangelista/williamcarey.htm acesso em 15 de abril de 2008 às 15h20min

http://www.sepoangol.org/carey.htm acesso em 15 de abril de 2008 às 15h50min.
Marielle Batista Ribeiro

CONTEXTUALIZAÇÃO MISSIONÁRIA NUMA SOCIEDADE PÓS-MODERNA

FACULDADE DE TEOLOGIA BOA VISTA – FATEBOV












Uanderson Pereira da Silva












CONTEXTUALIZAÇÃO MISSIONÁRIA NUMA SOCIEDADE PÓS-MODERNA

 





















GOVERNADOR VALADARES - MG
2009
UANDERSON PEREIRA DA SILVA


















CONTEXTUALIZAÇÃO MISSIONÁRIA NUMA SOCIEDADE PÓS-MODERNA

 











Trabalho de Conclusão de Curso – exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Teologia – Submetido à Banca Examinadora do Curso de Bacharel em Teologia da Faculdade de Teologia Boa Vista.



                                                            







GOVERNADOR VALADARES - MG
2009
ÍNDICE

Introdução............................................................................................................ 1
CONTEXTUALIZAÇÃO MISSIONÁRIA NUMA SOCIEDADE PÓS-MODERNA........ 5

1. Paulo Torna Conhecido do Deus Desconhecido.................................................... 5

2. Paulo Expõe a Doutrina do Ser Humano................................................................ 7

3. Paulo Fala Sobre a Ressurreição............................................................................9
4. Desafios Urbanos Pós-Modernos .........................................................................11
Conclusão............................................................................................................ 13
Bibliografia.......................................................................................................... 16


INTRODUÇÃO


Através deste trabalho acadêmico o leitor ficará inteirado com as principais estratégias missionárias de Paulo em Atos dos Apóstolos e depois refletir se essas estratégias continuam ou não eficazes nos dias de hoje.

A comunicação e suas diversas formas de expressão vem ocupar uma posição na história de missões, ou transmissão da mensagem do evangelho. Como um missionário provindo de uma cultura muitas vezes hostil à que ele está para ser inserido conseguirá levar a mensagem do evangelho, este que é carregado de uma cultura judaica, e que também é influenciado ao longo dos anos por várias outras culturas? Deve-se valer da apropriação dos princípios descritos na Palavra de Deus para ter um maior aproveitamento na comunicação do evangelho.

A palavra contextualização vem de contexto que quer dizer “uma encadeamento de idéias. Uma composição de idéias”[1]. Ou seja, a contextualização seria colocar para o receptor da mensagem aquilo que se quer transmitir de forma que ele venha entender em seu contexto e aplique na sua vida diária, como os profetas e os escritores bíblicos o fizeram.

O texto bíblico utilizado foi a versão atualizada da Bíblia Vida Nova e quando outra fonte foi citado a Bíblia utilizada.

Tendo em vista o tema proposto inicia-se este trabalho acadêmico definindo alguns termos, como o que é cosmovisão: Cosmo ou Cosmos: s.m.do grego Kosmos. “O Universo, considerado como um “todo organizado” e harmonioso.[2] E visão “1. Ato ou efeito de ver. 2. O sentido da vista. 3. Ponto de vista; aspecto.”[3] Então, cosmovisão é a visão do mundo, ou de mundos, é a percepção que esta pessoa, como indivíduo, tem de si mesmo e do mundo que o cerca, bem como daquilo que se está longe dela.

Pensando em pregação missionária teológica e contextualizada tendo por fonte de pesquisa o Novo Testamento, vê-se dois expoentes na pregação da Igreja Primitiva: Pedro e Paulo. O primeiro muito mais pelo sermão pregado no Pentecostes (Atos capítulo 2) e o sermão incompleto pregado na casa de Cornélio (Atos capítulo 10). Com relação a Paulo, temos os sermões transcritos em Atos, o primeiro na sinagoga de Antioquia da Psídia (capítulo 13), o segundo no Areópago, em Atenas (capítulo 17), o terceiro em Mileto, aos anciãos da Igreja em Éfeso (capítulo 20), o quarto ao povo judeu irado, em Jerusalém, o que na verdade não pode ser considerado um sermão, mas um testemunho pessoal (capítulo 22) e o derradeiro na presença do rei Agripa (capítulo 26). Além disso, as treze epístolas atribuídas à autoria paulina igualmente podem nos auxiliar neste intento.

Neste trabalho acadêmico abordar-se-á questões referentes à pessoa do apóstolo Paulo, sua obra, seu zelo, sua concepção e a ardor missionário. Suas viagens produziram uma obra, que foi o estabelecimento de igrejas em diversas cidades do Império Romano.

O que os escritores querem dizer quando escrevem a respeito das bases para a evangelização? Serão suficientes as referências a regras, métodos, significados, alvos e bênçãos? Qual deve ser a motivação? Quais são os reais propósitos da comunicação do evangelho, seja nessa, ou naquela cultura? Como o missionário deve encaixar a mensagem na sociedade do mundo moderno, ou pós-moderno?

A barreira lingüística provoca muito desânimo e desentendimento na comunicação. Além da dificuldade de se aprender um novo idioma, existe a nova cultura, e conhecimento gerais necessários à compreensão do campo como um todo. Quando em Atos o Espírito Santo enche os apóstolos estes começam a falar em línguas, na línguas nativas dos judeus, ali reunidos provindos de várias nações: pardos, medos, persas dentre outros. Quando Felipe vai pregar ao eunuco lhe explica uma passagem de Isaías, e muito provavelmente foi ele quem iniciou uma igreja ali na Etiópia.

Quando for apresentado os fundamentos bíblicos e os propósitos da comunicação do evangelho ficará claro aos missionários que precisam suprir a grande necessidade de entender os métodos e a realidade do evangelho em sua comunicação transcultural.

Enormes alterações ocorrem no meio social. O que dirá em outras culturas. Algumas permanecem como que intactas outras nem tanto. O missionário deve perceber quão diferentes são as realidades social e cultural e as influências, em relação àquelas experimentadas pela cultura, na qual será, ou está, inserido. Essas considerações poderão refletir em perspectivas que, talvez, se consumem numa melhor transmissão do evangelho.

Parece que o enfoque tem sido outro. Tem-se tencionado o “crescimento de Igrejas” e não a proclamação do evangelho e a edificação de Igrejas pela Palavra de Deus.

A missiologia está sempre presente, levando a comunidade eclesial a atuar de modo a obedecer a ordem de seu Senhor, apontando o sentido de sua existência. A força atual da igreja só será medida quando se puser em prática a missiologia, com todos os elementos que ela supõe.

Deus em sua soberania decidiu precisar de homens e mulheres para realizar isso de proclamar seu Filho. Por isso, os resgata, os chama, os vocaciona, os capacita e os respalda para essa obra. Esse é o papel da igreja: através da ação polarizadora do Espírito Santo levar as boas novas aos que ainda não ouviram. Ou seja, é preciso conhecer a Deus e torná-lo conhecido. Devemos para isso não medir esforços em aprender com Paulo em Atos dos Apóstolos. Em primeiro plano, analisar profundamente o que motivava o apóstolo a pregar o evangelho de cidade e cidade e as estratégias que ele usou para fazer isso. E desta forma, num segundo momento, ter uma visão clara para ver se pode-se ou não usar essas mesmas motivações e estratégias para a transformação da sociedade vigente através da obra redentora e reconciliadora de Jesus Cristo, proclamado com profundidade teológica e fervor missionário. Assim o Deus que não é conhecido de muitas culturas, ou mesmo adorado como em Atenas, como sendo um Deus desconhecido que operou outrora, trazendo de volta um conceito real de Sua presença e soberania neste mundo tão cheio de novas idéias, de novas formas, de novos, ou nenhum absoluto. Onde tudo é relativo na atual ”Atenas Global”. Onde os altares aos deuses são levantados e derrubados, na ânsia de uma mudança de se ter esperança, de se ter fé, de ver além desta realidade. Urge diante de nós a necessidade de levar ao mundo a cosmovisão cristã, para que renasça uma nova perspectiva de vida, um real cristianismo, sem barreiras, sem fronteiras lingüísticas, culturais. Algo sólido mesmo em mundo onde não se tem onde apoiar.

O desafio é grande e cabe a aqueles que se interessam por missões, e que são fiéis e sinceros servos do Deus Altíssimo analisar a Palavra como fora dito antes, e procurar nela bases para uma nova transmissão da mensagem do evangelho. Algo que seja claro, e atraente ao pecador, mas que o leve à cruz de Cristo, que mostre que Ele é o caminho, a verdade e a vida. Por isto a validade da analisa da vida deste grande apóstolo que foi Paulo. Tendo como ponto de partida Atos dezessete e sua empolgante e intrigante pregação no areópago.






























CONTEXTUALIZAÇÃO MISSIONÁRIA NUMA SOCIEDADE PÓS-MODERNA

Em Atos 17, pode-ser ver que Paulo foi levado e convidado a expor seu ensino perante o areópago. Não há como saber se Lucas quer que se entenda que ele falou no Pórtico Real ou no próprio Areópago.

Esta última é a opinião tradicional; os que visitam Atenas hoje em dia, podem ver o texto do discurso de Paulo no tribunal, inscrito em bronze no sopé do monte. [4]

Alguns temas desse discurso já apareceram no resumo do protesto de Barnabé e Paulo perante os moradores de Listra que se preparavam para lhes prestar honras divinas, mas a Areopagítica é mais completa, mais detalhada e adaptada ao ambiente intelectual de Atenas. Em Atenas, como antes em Listra, o Paulo de Atos não cita expressamente as profecias do Antigo Testamento, que, provavelmente, sua audiência não conheceria; as citações diretas que seu discurso contém, são de poetas gregos. No entanto, ele não argumenta a partir de “primeiros princípios” do tipo que formava a base de vários sistemas da filosofia grega, a exposição e defesa da sua mensagem estão fundamentadas na revelação bíblica e fazem eco ao pensamento, e às vezes à própria linguagem, dos escritos do Antigo Testamento. Como a revelação bíblica, seu discurso começa com Deus como criador de tudo, continua com Deus como sustentador de tudo, e conclui com Deus como juiz de tudo.

1. Paulo Torna Conhecido do Deus Desconhecido

Paulo encontra seu texto, seu ponto de contato, na dedicatória de um altar que ilustra a religiosidade intensa dos atenienses - qualidade esta que impressionou muitos outros visitantes da cidade na Antigüidade. A dedicatória dizia: Agnosto Theo (“A um deus desconhecido”). Outros escritores nos dizem que altares a deuses desconhecidos podiam ser vistos em toda a cidade; se alguém lembra que nenhum deles fala de um altar “para um deus desconhecido” (no singular), pode ser suficiente dizer que duas ou mais dedicatórias “a um deus desconhecido” podem ser juntadas na referência a “altares a deuses desconhecidos” (no plural).


Contavam-se várias histórias para explicar essas dedicatórias anônimas; de acordo com uma, elas foram feitas sob a orientação de Epimênides, um sábio de Creta e um dos poetas citados no discurso. Quaisquer que tenham sido as circunstâncias ou intenções originais da inscrição que Paulo tomou como texto, ela interpreta como confissão da ignorância a respeito da natureza divina, e diz que o propósito da sua vinda é desfazer essa ignorância.

Em seguida, ele passa a instruí-los na doutrina de Deus. Primeiro, Deus criou o universo com tudo o que ele contém; ele é senhor do céu e da terra. Essa é a terminologia da revelação bíblica: o Deus Altíssimo é aquele “que possui os céus e a terra” (Gn 14.19,22); “Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém” (Sl 24.1). Não se abre nenhuma concessão ao paganismo helenista; não se faz nenhuma distinção entre o Ser Supremo e um “demiurgo” ou mestre de obras que deu forma ao mundo, porque o Ser Supremo era puro demais para se contaminar com a ordem material.

Em segundo lugar, Deus não habita santuários feitos por mãos humanas. Estêvão, em sua defesa perante o Sinédrio, faz essa afirmação em relação ao templo de Jerusalém, construído para a adoração do Deus vivo; muito mais Paulo podia se sentir à vontade para fazê-la perante o Areópago, tendo diante dos olhos todos os templos magníficos que coroavam a Acrópole, dedicados a deuses que não eram deuses. O paganismo mais elevado, realmente, reconhecia que nenhuma estrutura material poderia abrigar a natureza divina: “Que casa feita por construtores”, perguntou Eurípedes, “poderia conter dentro do limite das paredes a forma divina?” As afinidades da terminologia de Paulo, porém, são bíblicas e não clássicas.

Em terceiro lugar, Deus não exige nada dos que ele criou. Nisso também se podem traçar paralelos com o argumento de Paulo da literatura grega clássica. O Eutrifo de Platão vem à mente. Paulo, contudo, está bem no meio da tradição profética. Os profetas e salmistas, em suas épocas, tiveram de refutar a idéia de que o Deus de Israel, em alguma medida, dependia do seu povo e das suas ofertas; seu povo é que dependia totalmente dele. Por isso, no salmo 50.9-12, ele recusa os sacrifícios deles nestes termos:
De sua casa não aceitarei novilhos,
nem bodes, dos teus apriscos.
Pois são meus todos os animais do bosque
e as alimárias aos milhares sobre as montanhas.
Conheço todas as aves dos montes,
e são meus todos os animais
que pululam nos montes.
Se tivesse fome, não to diria,
pois o mundo é meu e quanto nele se contém.[5]

Essa é precisamente a ênfase de Paulo, quando ele declara que, se Deus aceita culto do ser humano, não é porque não pode passar sem ele. Longe de ser suprida alguma necessidade pelo ser humano, é ele quem supre toda necessidade deste.

2. Paulo Expõe a Doutrina do Ser Humano

Como o criador de todas as coisas em geral é o criador da raça humana em particular, Paulo passa da doutrina de Deus para a doutrina do ser humano.


Em primeiro lugar, o ser humano é um só. Os gregos podem se orgulhar da sua superioridade natural em relação aos bárbaros; os atenienses podem se vanglorizar de ser, diferentes dos outros gregos, autóctones, provindos do solo da sua própria Ática. Mas Paulo afirma que a raça humana tem uma só origem, criada por Deus e descendente de um ancestral comum. Perante Deus, todas as pessoas se encontram no mesmo nível.
Em segundo lugar, a habitação terrena do ser humano e o curso das estações preparados para o seu bem-estar. Isso também é uma posição bíblica. A terra, de acordo com Gêneses 1, foi formada e adequada para ser o lar do ser humano, antes que este fosse introduzido como seu morador. Além disso, parte da formação e adequação do lar do ser humano na terra consistiu no preparo de “tempos” para sua habitação. A primeira destas está implícita em Deuteronômio 32.8: “Quando o Altíssimo repartia as nações, quando espalhava os filhos de Adão, ele fixou fronteiras para os povos, conforme o número dos filhos de Deus”.

Os “tempos” devem ser identificados ou com a seqüência de semeadura e colheita (como no discurso de Listra) ou com as épocas da história humana (como nas visões de Daniel).

Em terceiro lugar, o propósito de Deus em fazer esses preparativos foi que as pessoas pudessem procurar e encontrá-lo - um anseio muito natural, porque elas provêm dele, e ele as ajuda em satisfazê-lo, estando próximos delas. É aqui que a terminologia do discurso mostra maiores afinidades helenistas, mas para uma audiência diferente Paulo poderia ter expressado o mesmo pensamento, dizendo que o ser humano é criatura de Deus, feito à sua imagem. Para sua audiência ateniense ele fundamenta sua afirmação com duas citações de poetas gregos que pressupõe o relacionamento do ser humano com o Senhor Supremo.

A primeira citação se baseia na quarta linha de um quarteto atribuído ao cretense Epimênides, que denuncia seus conterrâneos por seu atrevimento, ao dizer que o túmulo de Júpiter podia ser visto em Creta:

Fizeram um túmulo para ti, é santo e sublime -
Os cretenses, sempre mentirosos,
animais ferozes, comilões vadios!
Mas não estás morto:
vives e permaneces para sempre,
Pois em ti vivemos, nos movemos e existimos.[6]

A segunda vem do poema sobre Fenômenos naturais de Arato, conterrâneo de Paulo na Cilícia, um poeta influenciado profundamente pelo esoterismo. Esse poema começa com uma celebração de Júpiter - Júpiter, o Ser Supremo da filosofia estóica, e não Júpiter, o chefe do panteão mitológico grego:

Comecemos com Júpiter; jamais, ó homens, o deixemos sem ser mencionado. Cheios de Júpiter estão todos os caminhos          e todos os pontos de encontro do homens; o mar e os portos estão cheios deles. É com Júpiter que cada um de nós tem a ver em todos os sentidos, porque dele também somos geração.[7]

Não se quer dizer que o Paulo de Atos (muito menos o Paulo que conhecemos das suas cartas) entendia Deus em termos do Júpiter do panteísmo estóico, mas se pessoas que seus ouvintes reconheciam como autoridades tinham usado uma linguagem que podia corroborar seu argumento, ele citaria suas palavras, dando-lhes um sentido bíblico, ao fazê-lo. Paulo queria mostrar aos seus ouvintes a responsabilidade de todas as pessoas, como criaturas de Deus em quem ele tinha soprado seu fôlego de vida, de lhe dar a honra devida. E essa honra não é prestada, quando se retrata a natureza divina sob formas materiais. Novamente ouvimos o eco da profecia e salmodia hebraica, quando a idolatria pagã está em vista (Sl 115.4): “Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens”.

Por fim, Paulo faz um chamado ao arrependimento. Sua ignorância da natureza divina era culpável, mas Deus fora misericordioso e não a levara em conta. Como às pessoas em Listra foi dito que até então Deus “permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos”, com a implicação de que agora se apresentava um novo começo, assim, aos membros do Areópago, é dito que a recente ressurreição de Cristo é a garantia de que, por meio dele, Deus irá “julgar o mundo com justiça” - mais um eco dos salmistas hebreus, que anunciaram que Deus “julgará o mundo com justiça e os povos, com eqüidade” (Sl 98.9). O “varão que destinou” para executar esse julgamento é facilmente identificado “como o filho do Homem” que, em Daniel 7.13s, é visto recebendo autoridade mundial do Ancião de Dias, e por isso com aquele a quem, de acordo com João 5.27, o Pai “deu autoridade para julgar, porque é o Filho do Homem”.

3. Paulo Fala Sobre a Ressurreição

Não há nada, porém, que confirme a idéia de que a “palavra da cruz” foi omitida da Areopagítica por uma questão de tato, porque se sabia que era loucura para os gentios; qualquer menção da cruz não teria parecido mais tola a esses gentios em particular do que a observação com que o discurso concluiu - sobre a ressurreição. Deus, diz Paulo, confirmou a certeza do futuro dia do julgamento, trazendo de volta da morte o homem por meio de quem esse julgamento seria executado.

Se entendermos o discurso em termos realistas, alguns ouvintes podem ter perguntado mais sobre esse homem - particularmente, o que havia nele que fez com que fosse ressuscitado. Se o entendermos em termos estilísticos, vemos que ele termina com uma conclusão apropriada. Mas o conteúdo da conclusão era totalmente inaceitável para a maioria dos ouvintes. Se Paulo tivesse falado da imortalidade da alma, teria prendido a atenção da maioria dos seus ouvintes, com exceção do epicureus, mas a idéia da ressurreição era absurda. Quando o ateniense Ésquilo, autor de tragédias, meio milênio antes, descreveu a instituição do tribunal do Aerópago por Atenas, a deusa padroeira da cidade, fizera o deus Apolo dizer:

Quando o pó endureceu o sangue de alguém, Uma vez morto, não há ressurreição.[8]

A palavra para ressurreição ali (anástasis) é a mesma que Paulo usou. Com que propósito esse homem veio a Atenas com essa conversa de ressurreição, quando todo ateniense sabia, com base na maior autoridade, que algo assim não podia acontecer?

Zombaria descarada e despedidas polidas foram as principais respostas à exposição que Paulo fez do conhecimento de Deus. Informa-se que um membro do tribunal do Areópago creu em sua mensagem - Dionísio, que divide com o apóstolo a honra de ter uma rua com seu nome na Atenas de hoje, e que, por volta de 500 d.C., serviu de pseudônimo para o autor de um conjunto literário de neoplatonismo e teologia mística. Entre os outros poucos que seguiram Paulo em Atenas, é feito menção especial a uma mulher chamada Damaris, da qual não se diz nada mais. Dos que foram persuadidos a tomar uma ação positiva pode ser dito, como foi dito dos tessalonicenses convertidos, que eles, “deixando os ídolos, se converteram a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro e para aguardar dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura” (I Ts 1.9s). Há pouca menção explícita da theologia crucis nessas palavras de Paulo, assim como no discurso no Areópago, mas seria uma atitude muito precária inferir que Paulo não disse nada sobre a cruz em Tessalônica. Entretanto, não ouvimos de nenhuma igreja em Atenas na era apostólica, e quando Paulo fala das “primícias da Acaia”, é a uma família em Corinto que ele se refere (I Co 16.15).[9]

Paulo parte do pressuposto da necessidade do conhecimento de seu ouvinte ao transmitir sua mensagem, a mensagem de salvação. Quiçá a igreja aprenda com ele a transmitir sua mensagem ao mundo pós-moderno, contextualizando-a de forma a expandir o Reino de Deus.

4. Desafios Urbanos Pós-Modernos

Existem três desafios que se precisa visualizar e analisar para realizar esta missão urbana para a realidade contextualizada.

O primeiro é o pluralismo cultural constitutivo da sociedade urbana contemporânea. O mundo urbano traz pessoas dos mais diversos cantos e com culturas próprias, dentro até do mesmo país. Isso faz com que a cidade se torne uma aglomeração de diversificadas culturas, e conseqüentemente havendo um sincretismo cultural próprio em cada comunidade.

O segundo desafio nasce do caráter multi-religioso e secular. As pessoas não se importam mais com a “religião da família”, mas com aquilo que pode trazer vantagens ou alívios pessoais. Na vida urbana, o importante é o bem estar, mesmo que pra isso seja necessário abandonar alguns princípios herdados ou aprendidos.

O terceiro desafio surge das tremendas desigualdades de que são objetos muitos que vivem hoje nos espaços urbanos. Um desafio para vivermos na cidade em paz, justiça e solidariedade, sem nenhum tipo de exclusão social, econômica, religiosa, racial, cultural etc.. Diante dos desafios precisa-se tomar posições certas para realizar uma “missão urbana para a realidade”.

A primeira posição é de uma pastoral comunitária acompanhada de uma teologia transformadora da cultura.

A segunda posição é de uma pedagogia dessa teologia. Não adianta saber somente os conteúdos dela, é necessário inculcá-las. Para isso é necessária uma pedagogia que responda às necessidades das pessoas da cidade.

Em terceiro lugar é necessária uma práxis voltada para as pessoas, tendo como sujeito primeiro a comunidade eclesial. Essa comunidade sarada e preparada para apregoar as três posições acima se torna o agente de pastoral que o mundo necessita.

Este é o mundo atual. Um mundo pós-moderno onde não se vê mais aquela vida agrária, onde em sua maioria as pessoas querem mais informações e a mensagem do evangelho deve ser atrativa, no sentindo de comover o coração e mente das pessoas a ouvirem a mensagem de amor do Senhor. Tem que ser uma mensagem contextualizada que atenda aos anseios dos ouvintes pós-modernos, levando-os a Cristo de uma forma viva e eficaz.























CONCLUSÃO

No Brasil, 81,23% das pessoas estão morando em áreas urbanas (IBGE - censo 2000). Nos Estados Unidos, esse contingente já chegou a 90% da população. O número de mega-cidades (com mais de 10 milhões de habitantes) chegará à 26 até 2015, e nesse mesmo ano a ONU alerta que cerca de 4 bilhões de pessoas morarão em conglomerados urbanos.

Numa reunião de pastores de uma determinada cidade, um deles indagou porque o povo não ia à igreja. Muitas respostas poderiam ser dadas para essa pergunta. Mas a principal razão é que as igrejas não atendem as necessidades reais das pessoas. A ação, como igreja, se restringe à mensagens irrelevantes, alienantes e descontextualizadas.

Uma missão voltada para as necessidades das pessoas pode fazer muita diferença. Ela deve-se desenvolver num ministério para as pessoas. No episódio da transfiguração (Lc 9. 28-36), onde os discípulos queriam ficar na montanha, o Mestre relembrou que é junto do povo que teriam que estar.

Os missionários devem estar prontos ao mesmo tempo para orar no “monte” e depois descer para junto do povo. Estar junto do povo nos faz ver a realidade que as pessoas estão inseridas e descobrir quais são suas reais necessidades, e conhecer sua linguagem, seu contexto.

Observando a vida deste grande apóstolo e seu preparo seja como judeu, como fariseu, sua formação filosófica, a influência grega em seus pensamento, sendo que sua transformação de vida é o que mais importa, pois daí em diante ele vê o mundo em uma nova cosmovisão, não a visão paulina, mas a de Cristo. A visão de mundo, de Reino de Deus. Sabedor de que este deve ser expandido até aos confins da terra a igreja através daqueles que são vocacionados devem investir esforços de ordem financeira, de oração, e mesmo de envio para o mundo seja alcançado pra Cristo.

Após passar por uma igreja enviava suas cartas que são verdadeiros compêndios teológicos, de onde a igreja veio a se firmar. Apesar de parecer loucura a cruz, a pregação do evangelho Paulo preferiu ser louco para o mundo, mas sábio para Deus, como diz aos coríntios, em sua primeira carta.

Paulo empreendia seus esforços missionários, não de forma aleatória, mas sim de forma estratégica. Chegando nas cidades procurava primeiro as sinagogas, ou um lugar onde pudesse expor suas idéias ao maior número de pessoas possível. E mesmo preso adiante da guarda pretoriana sua estratégia continuava vigente. Tal era seu amor por Cristo e por sua obra, que deixava sua própria vida, a qual considerava não sendo dele, mas de Cristo.

Não tinha medo de pregar aos filósofos, nem de estar diante de reis, governadores, embaixadores, tinha a ousadia de Pedro, mas um conhecimento necessário para conhecer as linhas de sua época e traçar pensamentos lógicos, inteligíveis ao seu público, fez como poucos uma contextualização das verdades bíblicas aos problemas da humanidade.

Se Paulo vivesse na pós-modernidade tempos não teria dificuldades de atender às necessidades de informações, de contextualização, de demonstração de Espírito e de Poder, pois suas mensagens estavam calcadas na Palavra, a firme verdade de Deus. O conhecimento dos símbolos somente o ajudavam a contextualizar a verdade. O conhecimento de seus ouvintes, ou leitores, era de suma importância, até mesmo porque eram motivos de oração do apóstolo. Que diz em Romanos capítulo dez, que a fé vem pelo ouvir e ouvir a palavra de Deus.

Os desafios atuais são grandes, mas frente a vida deste descomunal apóstolo, os missionários e pregadores da palavra podem encontrar material suficiente, e motivação necessárias de que no Senhor nosso trabalho não é vão.

Daí a real necessidade de primeiro se ter um encontro com Cristo, ter um conhecimento firme e sólido da palavra, e uma formação Bíblica-acadêmica-teológica, de forma semelhante, para que o mesmo saiba como contextualizar sem contudo, desfigurar as verdades da palavra de Deus.

A Contextualização é isto é a transmissão de forma clara e concisa, mesmo em meio a inúmeras idéias, e desafios, que tentam abafar os ouvidos, e inquietar os corações menos avisados.

O Desafio é grande, mas o próprio Senhor disse que estaria com a sua Igreja todos os dias e até aos confins da terra, e que enviaria o consolador que diante de reais dificuldades renova as forças, realça as motivações e faz a igrejas lembrar as Palavras de Jesus e converte o pecador a Cristo. O próprio Espírito pode-se também dizer, que é agente causador nesta contextualização, digerindo e impregnando no coração humano a verdade do evangelho. Que sua igreja aprenda com Ele, e que possa preparar melhor seus obreiros para esta grande seara, com a mensagem que pode tornar o homem pós-moderno sábio, mas sábio para a salvação.

BIBLIOGFRAFIA


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[1] DICIONÁRIO MICHAELIS/UOL. 2003.
[2] Idem.
[3] Ibidem.
[4] BRUCE, F. F. Paulo o Apóstolo da Graça, p. 230, 231.
[5] BRUCE, F. F. Paulo o Apóstolo da Graça, p. 232.
[6] BRUCE, F. F. Paulo o Apóstolo da Graça, p. 233.
[7] Idem, p. 233, 234.
[8] BRUCE, F. F. Paulo o Apóstolo da Graça, p. 237.
[9] Idem,  p. 237.